segunda-feira, 14 de julho de 2008

II - ENCONTRO MARCADO

Era manhã de sábado, dia de descanso conforme preconiza O Gênese Bíblico. Estava eu com um encontro marcado com o Tom. Desta vez eu me desloquei no meu automóvel para uma certa cidade interiorana, deixei o meu carro com um mecânico de uma oficina para ele fazer uma revisão, adiantei-lhe algum dinheiro dizendo que o restante pagaria na volta e como havia a probabilidade de me demorar, pedi-lhe que, terminado o serviço, guardasse o meu carro até minha volta.
João Gordo, era assim como o mecânico era conhecido, não fez objeção nem pergunta alguma, apenas disse:
- Pode ir Doutor e demorar o tempo que quiser. Aqui quem manda é o Senhor. O seu carro vai ficar bem guardado e quando o Senhor chegar vai encontrar ele funcionado como se fosse novo.
Agradeci ao João Gordo e saí a pé. Conforme orientação recebida e confirmada pelo Tom, há um quilômetro e meio daquela cidade, na direção norte, após a transposição de uma mata fechada, havia um espaço limpo com chão de barro endurecido de uns cinqüenta metros de diâmetro.
Foi para esse local que me direcionei. De posse de uma bússola foi-me fácil chegar ao local. A mata era mesmo fechada e de difícil transposição, mas não para mim que gostava desse tipo de aventuras em contato com a natureza. Foi-me muito prazeroso estar vez ou outra me abaixando ou me desviando dos galhos da mata, algumas vezes sendo espremido entre os arvoredos em certas passagens bem fechadas, sentindo o roçar das folhas no corpo me massageando e me inebriando com o cheiro agradável que delas exalavam.
Quando cheguei à clareira, permaneci algum tempo admirando a beleza do local. Observei o relógio, eram 10:30 horas, eu houvera gastado mais de uma hora na transposição da mata. Mas que bela obra da natureza! Aquele espaço aberto era cercado de árvores por todos os lados, com pedras lisas rentes ao chão, sendo algumas de grande extensão. Que ótimo lugar para meditação, disse de mim para comigo! Quando assim permanecia extasiado ouvi o som do helicóptero. Era o Tom que se aproximava. Parece já saber da minha presença, pois que chegava no mais cedo da hora que combinara.
Não nos demoramos, pousado o helicóptero eu entrei nele e viajamos por longo tempo por cima de serras, cidades, vales e montanhas até que chegamos à sua morada no alto da serra. Serena e a cadela Estrela estavam nos esperando.
Serena, muito amável abraçou o Tom e depois me cumprimentou com um sorriso de boa acolhida, enquanto Estrela pulava incessantemente sobre mim, latindo e balançando o rabo, com grande alegria incontida.
Em breve e agradável caminhada entremeada de conversas, subindo alguns declives da Serra, chegamos à singular e bela morada do Casal.
Depois de alguns preparativos e um lanche ligeiro, sentamos em confortáveis cadeiras à frente da casa sob a fronde de imensa árvore e começamos a conversar, eu e o Tom, com a presença, vez ou outra, de Serena, que ora se levantava para alguma tarefa habitual, ora chegava para nos acompanhar nas idéias que desenvolvíamos, quase sempre com significativo silêncio, embora sua expressão facial e seu olhar nos comunicasse entendimento e aprovação.
Havíamos até então falado de assuntos ligados à morada na Serra, quando o Tom me pergunta:
- Você vai bem, não é Ramezoni?
- Com certeza, depois da desbravadora e agradável caminhada que fiz e ainda mais agora que estou aqui, não existem palavras que traduzam o meu estado de Espírito, estou bem, bem até demais...
- E o mundo lá embaixo, o que você me diz dele?
- Ah!.. É uma loucura, muita ilusão dos que detém a riqueza, miséria em larga escala assolando a população, fome, morte, criminalidade crescente, descrença, valores morais desfeitos, promessas de um mundo melhor enganosas, um futuro semeado de incertezas, a filosofia do prazer e do lucro predominando, famílias se desfazendo, crianças abandonadas e subnutridas, o espectro da fome ceifando vidas inocentes, a insegurança, o progresso destruindo avassaladoramente a natureza, a ciência e a tecnologia se desenvolvendo numa velocidade vertiginosa sem, contudo, equacionar o problema crucial do ser humano que é o bem estar social de condição de vida digna, com educação, cultura, habitação, saúde, alimentação, trabalho e lazer.
- Amigo Ramezoni, posso chamá-lo assim porque considero você como um dos que pensa igual a nós. É por isso que você é e será sempre bem vindo ao nosso seio familiar. Foi uma descoberta brilhante encontrá-lo, ou melhor, você é que nos encontrou e nós nos descobrimos um ao outro.
Nesse momento, Serena que havia se ausentado chega sorridente, senta-se em uma cadeira ao lado e fala:
- Pelo semblante de vocês percebo que a conversa está animada e proveitosa e apenas começando...
- É bem verdade - arrematou o Tom - Ramezoni permite grandes vôos culturais que podem descerrar véus que permitam enxergar soluções para muitos problemas da humanidade...
- Eu ia agradecer tão gentis palavras, quando Estrela chegando de uma incursão na mata pelos arredores da casa chega latindo e salta no meu colo...

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oi Sr. Ramezoni, pois é assim que se deve chamar um artista. De muito bom gosto seu blog. Parabéns pelo trabalho e pelo conteúdo.

Patricia (Banco Santander do Brasil)

RAMEZONI disse...

Olá Patrícia, agradecido pelo comentário. Sua presença é muito importante na soma deste meu trabalho. Grande abraço, Ramezoni