domingo, 15 de junho de 2008

I - O COMEÇO DE TUDO

Eu era dez anos mais moço quando conheci o Senhor Tom, ou simplesmente o Tom como ele queria que eu o chamasse, sem utilizar nenhum pronome de tratamento especial. Aventurava-me na subida de uma das mais altas serras da região, por onde me encontrava em viagem, acompanhado da minha cadela Estrela, quando chegando ao topo da serra, visualizei uma harmoniosa casa de madeira, tanto nos traços como nas formas, estando na entrada uma Senhora alisando um cabrito.
Aproximei-me curioso e logo me fiz conhecer. Ela muito amável ouviu-me silenciosa com um olhar sereno de uma deusa imperturbável às surpresas terrenas e após uma pausa, com uma voz sonora, melódica e forte, falou:
- Tom, venha até aqui fora ver um Senhor...
Não demorou e logo saiu da Casa um Cidadão de tez morena, olhos castanhos, cabelos esbranquiçados, compleição física forte, que depois de observar-me demoradamente, perguntou-me:
-O que desejas, quem sois e qual o seu nome?
Ao que respondi:
- Sou só um cidadão do mundo que viajando por essa região achei por bem parar o meu carro e subir até aqui. Chamo-me Ramezoni e surpreendeu-me encontrá-los nesse alto da Serra. Vocês moram aqui?
- Sim, moramos -respondeu o Tom.
- Mas me parece que vocês não são conhecidos da região.
- Não somos e não é preciso. É melhor que nos ignorem.
- E sua esposa - perguntei - como se chama?
- Serena, é só o que basta saber.
- Mas como chegaram aqui, de onde vieram e o que fazem?
- Temos uma grande e forte razão para estarmos aqui. Viemos de longe, mas não de tão longe como podem achar, porque, com o progresso, o mundo se tornou pequeno. Agora me responda: O que foi que o motivou a subir esta Serra, sozinho, acompanhado de uma cadela?
Nesse momento a minha cadela Estrela parecendo saber do que o Tom falava, latiu: au, au...
O Tom observando Estrela, disse:
- É uma cadela sensível e bela, você veio, de fato, muito bem acompanhado, mas diga-me o que o motivou a subir a Serra?
- Eu gosto do alpinismo e amo mais ainda a Natureza...
Diante da minha resposta, observei que os dois se entreolharam numa linguagem de concordância favorável e positiva referente à minha pessoa. Foi quando o Tom numa voz grave e firme falou-me:
- Vamos entrar Ramezoni e conhecer a minha casa.
Não me fiz de rogado, entrei e percorri compartimento por compartimento e me maravilhei com tão boa morada; era uma casa de madeira ampla e bem dividida, numa sala havia uma rica biblioteca com livros raros em vários idiomas, em uma outra haviam três computadores bem instalados, dotados de altas configurações e conectados a Internet. Havia ainda uma aconchegante sala de estar com mesinha e cadeiras singelas e confortáveis, uma sala de refeições com uma mesa e seis cadeira, uma cozinha com geladeira e frizer, uma dispensa com um estoque grande de alimentos, dois quartos completos bem mobiliados, dois banheiros.
Não podendo conter a minha admiração, falei:
- Vocês tem uma estrutura aqui de fazer inveja a muitas ricas famílias das capitais. Mas e a energia, como é que a obtém?
- Nós temos na casa das máquinas um gerador próprio de alto potencial com capacidade de fornecer energia para uma grande cidade.
- Poxa! Tudo bem, já compreendi, vocês são humanos, mas não são criaturas comuns, vocês têm um saber e um trabalho de ordem superior que eu não sei, nem precisam me dizer porque, por enquanto, me contento em estar aqui e ter tido o prazer de conhecê-los.
Ao longo desse nosso diálogo, Serena só nos acompanhou com o olhar sem dizer uma só palavra.
Eu o Tom saímos e fomos conversar debaixo dos arvoredos enquanto Serena cuidava de seus afazeres em casa. Quando me dei conta já era tarde e a noite já se aproximava.
- E agora, como voltar, descer a Serra, disse para mim?
Tom percebendo a minha preocupação, disse-me:
- Você hoje dorme em minha casa e se quiser passa uma semana. A sua conversa me agradou e me deu confiança na sua pessoa.
Como eu havia deixado o meu carro fora da estrada, ao pé da Serra, em um lugar escondido, encoberto por arbustos, aceitei o convite de passar a noite na casa do Tom, no alto daquela Serra.
Naquela noite, jantamos frutos silvestres colhidos na Serra, substanciosa sopa de palmito com aveia e uma xícara de chá de folhas de hortelã. Depois conversamos bastante. O silêncio da noite misturado ao cheiro inebriante das árvores dava uma sensação misteriosa de conforto desconhecido.
Ao me recolher ao quarto de hóspede para dormir, entrei em preces intensas e espontâneas nascidas do âmago do meu ser, e entre, temeroso e alegre, supliquei proteção e agradeci a DEUS por estar vivendo aquele momento fascinante, único, singular e inusitado, onde a presença de DEUS se me mostrava de forma tão intensa e bela como nunca sentira antes.
Dormi sono profundo como nunca houvera dormido e quando acordei havia uma orquestra sinfônica de passarinhos anunciando o alvorecer.
As minhas conversas com o Tom foram se aprofundando e criando laços de amizade cada vez mais consistentes. O trabalho que o Tom realizava era fantástico. Ele tinha uma rede de contatos amplos em todo o mundo pela Internet. Muitos desses seus contatos eram executores de suas diretrizes. O Tom tinha um trabalho missionário educativo e assistencial junto a várias comunidades internacionais empobrecidas. Serena o ajudava, cuidando de ordenar os assuntos chegados via correio eletrônico em uma escala de prioridades conforme os graus das necessidades e urgências avaliados, para depois repassar para o seu marido. Os dois formavam um belo par de missionários.
Em razão do meu bem estar e de um gozo de paz interior ignorado, o segundo dia foi transcorrendo sem que eu me apercebesse, e foi nesse estado de desligamento que tomei café, almocei, lanchei e jantei com o casal como sendo parte da família deles, até que, chegado a noite, eu tive que permanecer para dormir ali, mais uma vez.
No terceiro dia, o Tom me chamou para sair com ele pela Serra. Eu o acompanhei e numa parte plana horizontal que se estendia e depois descia se ligando ao meio de uma outra elevação da Serra, sem que pudesse ser visto por qualquer meio e de qualquer lugar, havia um heliporto onde se encontrava um helicóptero em baixo de uma cobertura de palha. Disse-me o Tom:
- Ramezoni, esse helicóptero é o nosso meio de transporte de chegada e saída da Serra sem que alguém veja ou perceba.
Perplexo, compreendendo porque os habitantes daquela região não sabiam daquela morada deles no alto da Serra, exclamei:
- Poxa! Tom, e agora que acabei de compreender tudo, dou graças a DEUS pela imensa riqueza da qual, vocês são portadores, porque essa riqueza é como fonte de água viva beneficiando as criaturas mais necessitadas de ajuda em todo o mundo.
E foi dessa forma que os dias se sucederam até que completasse uma semana como previra o Tom.
Estrela passara todos esses dias sempre ao nosso lado, toda festiva, cheia de felicidade, ora latindo, ora correndo, ora descansando, ora comendo das rações que o Tom e Serena tinham dentre os alimentos guardados no estoque da dispensa, porque eles pensavam em ter um cachorro com eles.
Chegando a hora de partir resolvi deixar Estrela com Tom e Serena. Os três se deram muito bem e eu fiquei de, vez ou outra, retornar sempre que pudesse.
O resultado é que eu e o Tom nos tornamos muito amigos.
Ficamos sempre, vez ou outra, nos comunicando pessoalmente, quando não, pela Internet.
O Tom era versado em muitas áreas do conhecimento. Parecia conhecê-las todas. Os seus conceitos eram emitidos com sólidos fundamentos. Aprendi mais com o Tom do que nos períodos que me dediquei aos estudos em escolas e cursos acadêmicos.
Essa foi a primeira parte do começo de tudo e o depois é o que vem a partir do agora pela veiculação das minhas conversas que venho tendo atualmente com o Tom. JH Ramezoni.